sexta-feira, 15 de junho de 2007

Francisco e o lobo - Maria Teresa Gonzalez


Louvado sejas, ó meu Senhor, com todas as Tuas criaturas, especialmente, meu Senhor, o irmão Sol, que faz o dia e nos dá a luz.
São Francisco de Assis*


* Este pequeno texto foi retirado de um belo poema de São Francisco de Assis, chamado «Cântico ao Irmão Sol», no qual se pode ver o seu amor por Deus e pela Natureza.



Num tempo chamado Idade Média, na pequena cidade italiana de Assis, vivia um jovem de nome Francisco.

Era o filho mais velho de um dos homens mais ricos da sua cidade, o negociante de panos Pietro di Bernardone. À loja do pai de Francisco, no rés-do-chão da casa onde moravam, iam os senhores e senhoras mais endinheirados da região comprar belas e pesadas peças de veludo e de brocado para com elas mandarem fazer os seus sumptuosos fatos, mantos e capas.

Desde que nascera, Francisco vivia rodeado de todo o conforto e até de um certo luxo. Como os outros jovens de famílias ricas, gostava de se vestir com roupas vistosas e de participar, com os seus amigos, em banquetes e outras festas. Às vezes, ficava a divertir-se nessas festas até de madrugada, ouvindo música, comendo saborosas carnes assadas e bebendo os melhores vinhos de Itália. Assim, durante algum tempo, a vida do jovem Francisco foi idêntica à de outros rapazes da sua idade e condição social.

Um dia, Francisco adoeceu gravemente e teve de ficar de cama durante algum tempo para se recuperar. A sua mãe nunca deixou que lhe faltasse nada e confortou-o sempre com muito carinho, desejosa de que o filho mais velho se curasse o mais rapidamente possível.

Quando, finalmente, o rapaz melhorou, quis imediatamente levantar-se da cama para sair, pois já estava cansado de estar fechado no seu quarto. Porém, ao pôr os pés no chão depois de tanto tempo deitado, sentiu-se fraquejar.

Na realidade, Francisco ainda não tinha força suficiente para se manter de pé e, por essa razão, a mãe veio logo trazer-lhe uma ajuda: uma bonita bengala de madeira envernizada com cabo de marfim, para o filho se apoiar nos primeiros tempos.

Francisco quis, então, ir dar um longo passeio pelo campo, perto da cidade onde morava. Lá, teve ocasião de pensar bastante sobre a vida que levara até àquela altura e chegou à conclusão de que queria mudar, para viver de uma forma completamente diferente da que ele conhecia até então. Naquele dia, caminhou pelos campos e pensou longamente, enquanto admirava a beleza que havia à sua volta.

Desde cedo se habituara a observar a Natureza: as árvores, as flores silvestres, os rios, os campos cultivados, os animais, o Sol, a Lua e todos os astros do firmamento. Ao contemplar a Natureza, Francisco sentia-se cada vez mais perto de Deus, o Criador de todas as coisas.

Uns dias mais tarde, na loja do seu pai, enquanto atendia um cliente que vinha comprar ricos tecidos, reparou que um homem muito pobre tinha entrado na loja para pedir dinheiro, e Francisco apressou-se a mandá-lo embora, quase sem se aperceber do que fazia. No entanto, nessa noite, lembrou-se do que tinha feito e arrependeu-se muito! Aquele pobre contava com a sua ajuda e ele nada fizera por ele...

Então, tomou a decisão mais importante da sua vida: a partir daquele dia, iria dar tudo o que pudesse a quem viesse pedir-lhe ajuda.

Assim fez, tornando-se generoso como nunca tinha sido. Na verdade, acabou mesmo por dar tudo o que tinha e mudou-se para uma cabana fora da cidade de Assis, para viver da forma mais simples possível, como Jesus tinha vivido. Francisco começou, então, uma vida de serviço aos pobres e doentes com quem se cruzava, lamentando-se apenas do tempo que tinha perdido em festas luxuosas e grandes banquetes, enquanto tantas pessoas passavam fome e frio por não terem quem as ajudasse.

A partir daquela altura, todos os pedintes que dele se aproximavam recebiam ajuda e palavras de conforto. O mesmo acontecia com os doentes, de quem Francisco tratava o melhor que sabia, sobretudo daqueles que não tinham ninguém que quisesse cuidar deles.

Como gostava muito da Natureza, Francisco de Assis foi-se tornando também cada vez mais amigo de todos os animais, árvores, flores e tudo o mais que Deus tinha criado com tanto amor e perfeição. Para ele, todos os seres da Natureza eram como seus irmãos e assim os tratava, por onde quer que passasse nas viagens que fazia.

Certo dia, Francisco compreendeu que a população de uma cidadezinha chamada Gubbio andava muito zangada e preocupada por causa de um lobo feroz que por lá aparecia frequentemente para atacar galinhas e outros animais domésticos.

A certa altura, as pessoas de Gubbio, já desesperadas com a situação, decidiram que um grupo de homens iria procurar o lobo pelas matas para o matar. Ao saber isto, Francisco resolveu falar ao povo de Gubbio:

– Deixai-me, primeiro, ir ter com o lobo – pediu-lhes. – Em breve, regressarei e direi o que haveis de fazer.

Conforme prometera, Francisco foi à procura do tal lobo feroz e, finalmente, encontrou-o. Viu, então, que ele estava magro e faminto e percebeu imediatamente a razão que o levara a atacar os animais domésticos e até alguns habitantes de Gubbio.

Então, aproximou-se suavemente do lobo, acariciou-lhe o lombo e falou com ele, como conversava com outros animais, plantas e até com o Sol e a Lua, dos quais cada vez gostava mais. É que Francisco sabia que todos eram criaturas de Deus e, portanto, havia que tratá-los com respeito e carinho.

Depois de ter falado ao lobo, regressou a Gubbio, tal como havia combinado. Os habitantes já o esperavam ansiosamente e quase não o deixavam falar, fazendo-lhe muitas perguntas. Por fim, Francisco disse-lhes:

– Vi o lobo. Falei-lhe e posso garantir-vos que não voltará a atacar, desde que vocês passem a deixar-lhe alguns restos de comida à entrada de Gubbio. Se assim fizerem, não será necessário matá-lo nem continuar a temê-lo, pois não voltará a fazer-vos mal algum.

Muito impressionados com as palavras de Francisco, os homens e mulheres que o ouviram foram guardar os paus e armas que já tinham preparado para a caça ao lobo e regressaram a suas casas muito mais tranquilos. Na verdade, conheciam bem Francisco e, embora achassem estranho que ele conseguisse falar com os animais, sabiam que ele era um homem bom e que cumpria a sua palavra.

A partir daquele dia, reinou a paz entre o lobo e a população de Gubbio, que não deixou de arranjar comida para lhe matar a fome.

Por esta e muitas outras razões, Francisco veio a ser considerado um homem santo e é também o padroeiro dos ecologistas e de todos aque­les que se dedicam a proteger a Natureza.

Ao longo dos tempos, muitos homens resolveram seguir o exemplo de Francisco de Assis e são conhecidos por «fransciscanos»! Todos eles decidiram viver na maior simplicidade, ajudando, com alegria, os pobres e os doentes e respeitando sempre a Natureza!






Maria Teresa Gonzalez
Histórias do céu
S.João do Estoril, Lucerna, 2005

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